Um sábado emocionante
A palestra “Narrativa Sobre o Morar”, com a editora de Casa e Jardim Maria Beatriz Gonçalves, abriu os encontros do dia com uma abordagem delicada sobre as memórias e alicerces emocionais que constroem a ligação afetiva que cada morador tem com seu lar. As narrativas são um recorte de sensações, momentos, lembranças e heranças familiares que fizeram parte das histórias publicadas na revista nos últimos anos. “Hoje percebemos um ‘morar’ mais autoral, em que cada lugar traduz um significado diferente. A ligação com a casa pode surgir de um lar transformador que reflete uma grande mudança de vida ou ser um refúgio rodeado pela natureza”, exemplificou a especialista em pesquisas de tendências e comportamento humano.
Logo em seguida, na sala de exposição Design Feito à mão, as designers Amélia Tarozzo e Flávia Pagotti Silva, da Plataforma 4, contaram sobre a Coleção Êxodo Urbano, criada exclusivamente para a By Kamy. Os tapetes inspirados na inversão do fluxo migratório dos grandes centros urbanos para as pequenas cidades e zonas rurais arremataram lindamente o espaço ambientado com as peças desenvolvidas no LAB 2018. “Aqui em Tiradentes vemos a história, o design e o artesanato juntos em cada esquina, com alma e uma identidade bem brasileira, por isso é maravilhoso apresentar um produto aqui”, diz Flávia. “Podemos estar perto de quem executou cada peça, interagir de uma forma natural e gostosa. Acho que a Semana Criativa vai crescer exponencialmente e já ganhou um espaço fundamental no cenário do design nacional”, emenda Amélia.
Às 11h30, o lounge Westwing por Paulo Alves no Sobrado Aymorés ficou pequeno para tanta gente que veio aproveitar a sessão de autógrafos do livro Várzea Queimada. Espírito, matéria e inspiração para, claro, conhecer o arquiteto e designer Marcelo Rosenbaum. A renda da venda dos livros foi revertida para o Instituto A Gente Transforma, apresentado na palestra das 18h pelo arquiteto (leia abaixo).
Mas o momento mais impactante do dia aconteceu com o bate-papo entre os artesãos e designers que fizeram parte do LAB 2018, mediado pela jornalista Regina Galvão. Era a conclusão do trabalho cuidadoso e intenso de um ano, idealizado pela jornalista Simone Quintas e produzida por Júnior Guimarães, que emocionaram a todos no auditório ao contar como foi esse processo. No palco, os artesãos Deise e Fabio Reis, Delano Antunes, Maria Laura Resende e Robson Matias compartilharam com a plateia como foram os encontros, as expectativas e dúvidas durante as imersões, o que aprenderam nesse caminho e como imaginam que vai ser sua forma de criar após a experiência enriquecedora. “Agora não vejo mais limites, mudei meu olhar para o que está à minha volta. Olho tudo diferente e fico tendo ideias o tempo inteiro”, conta Robson, mais conhecido como Robinho, que criou luminárias com a técnica do papel machê incluindo um design mais contemporâneo e técnicas sugeridas pelos designers como utilizar pigmentação através da terra e do carvão, fazer uso da goma de farinha no lugar da cola industrial e aplicar espinhos de ora-pro-nóbis nas peças. Já as designers Luly Vianna e Yáskara Jaeger lembraram do processo de inserir cores e regastar os repassos da avó da tecelã Maria Laura Rezende, que divertiu os presentes como sua sinceridade desconcertante. Maria Helena Emediato recordou a criação de joias de estanho junto de Deise Reis e os designers Alfio Lisi e Fernando Jaeger relembraram as idas ao cortume e à fábrica de ladrilhos hidráulicos em Barbacena, materiais que compuseram as mesas e bancos com a marcenaria do artesão Delano, que confessou: “No começo eu não gostei muito da ideia de usar os ladrilhos lisos. Mas o resultado ficou tão bom que agora quero trabalhar novas peças e atingir um outro público”. “Fizemos um verdadeiro estudo do meio para conhecer os materiais presentes na região e propor novas formas de empregá-los. Resgatamos o método da marcenaria de encaixe e reutilizamos sarrafinhos de refugo nos aparadores”, completa Fernando Jaeger. “Eu sempre me senti mais um artesão do que um designer. Ofício de fazer é muito mais natural do que o projetar”, reforçou Alfio Lisi.
Seguindo o dia, duas oficinas que aconteceram das 15h às 16h no Museu da Liturgia (rua Jogo de Bola, 15) ofereceram uma valiosa oportunidade de aprender com dois artesãos muito importantes na cultura da cidade. Dona Lilia Fonseca, uma das responsáveis por recuperar a tradição das cruzes adornadas com tiras de papel que ficam penduradas nas fachadas das casas, falou sobre a origem do costume e ensinou a modelagem das peças. No mesmo local, o entalhador Rondinelly Santos, o Nelinho, ensinou os presentes a fazer uma voluta na madeira, elemento frequente na decoração barroca.
De volta ao Centro Cultural Yves Alves, às 16h, a jornalista e fundadora da empresa Mesa&Cadeira, Bárbara Soalheiro, contou na palestra “O Futuro do Trabalho” o método que utiliza para solucionar problemas de grandes empresas em apenas uma semana a partir de um grupo de profissionais convidados para cada desafio. “Percebo que realmente criamos um método diferente de trabalho e partir do ano que vem vamos começar a ensiná-lo”, promete.
E o dia se encerrou com a palestra disputadíssima e contagiante do premiado arquiteto e designer Marcelo Rosenbaum. Sob o tema “Design Essencial”, ele contou suas experiências com o projeto A Gente Transforma, que promove uma verdadeira mudança social em comunidades pelo Brasil através do resgate de sua ancestralidade, o desenvolvimento de produtos que potencializam seus saberes, a geração de renda e o significado de pertencimento para cada uma das pessoas envolvidas e seu entorno. A palestra foi coroada com a exibição do emocionante Várzea Queimada. Espírito, matéria e inspiração (Damasco Filme), sobre a experiência com os moradores deste povoado no sertão do Piauí, em 2012.
E entre os eventos paralelos que pipocaram pela cidade, teve Oficina aberta de Wagner Trindade, onde o artesão Waguinho abriu sua oficina ao público para mostrar seu ambiente de trabalho e as peças criadas para a edição 2017 da Semana Criativa e duas vivências para os pequenos: O olhar da criança sobre o brincar de morar na Casa Jardim, de Janaína Simplício e Olívia Mara em parceria com a arquiteta e urbanista Tatiana Soledade e a Oficina de costura com as instrutoras Isabel Dias e Tainá Carvalho.